Por: Marcelo Tas - É jornalista e comunicador de TV. Tem três filhos: Luiza, 22 anos, Miguel, 10, e Clarice, 6. É âncora do “CQC” e autor do Blog do Tas. Aceita com gratidão críticas e sugestões sobre essa coluna no e-mail: crescer@marcelotas.com.br
Tenho amigos de várias idades. Já fui testemunha da transformação de muitos deles de solteiros convictos em casados apaixonados e dedicados a seus parceiros e parceiras. Para a grande maioria dos casais que vi surgir, sempre observei com atenção e alegria o momento inevitável da vontade de ter filhos. Nessa hora, algo cada vez mais comum e triste acontece. O planejamento exigente e cuidadoso dos casais, baseados na ilusão costumeira de que eles é que vão escolher com precisão suíça a hora da chegada dos filhos, se transforma em frustração e ansiedade. O ciclo da vida é um eterno mistério. O tempo, esse velho senhor da razão, não para de colocar armadilhas e surpresas no caminho. O relógio biológico sugere que vivamos a vida como se cada batida do coração fosse a primeira. Mas a frase é dificílima de ser colocada em prática.
Queremos ter o controle de tudo. Quando, por alguma razão, os filhos não chegam, há um risco enorme de fadiga na estrutura do casamento. Nem todo casal deve ter filhos, claro. Mas é inegável que a experiência da paternidade e maternidade dá uma consistência especial ao casamento.
Talvez por conta das novas demandas profissionais, o casamento e os filhos são cada vez mais empurrados para um período mais tardio da vida. É doloroso ver casais gastarem preciosas economias e até recursos inexistentes em médicos e métodos de fertilidade tão incertos quanto desgastantes, materialmente e espiritualmente. O outro lado da moeda, compensador, é ver como a adoção passou a ser uma opção que ganha novo valor nos dias que correm. E como correm...
Emocionado, acompanhei o drama de um casal de amigos que, depois de um longo processo de debate, se decidiu por adotar uma criança. Descobriram, a duras penas, que a chegada do filho adotivo apresentava a mesma dificuldade, senão ainda maior, que a do frustrado processo biológico. A chegada do pequeno ser que iluminou a vida deles teve cenas de cinema. Com direito a mergulho na burocracia selvagem e viagens arriscadas a lugares remotos do país.
Apresentei esse mesmo casal, sugerindo-os como consultores, a um outro casal de amigos brasileiros que mora no exterior com o mesmo drama. Novamente, fui testemunha de cenas comoventes e inesquecíveis. O coração deles se abrindo ao constatar, numa visita ao Brasil, o quanto os filhos adotivos (na ocasião já eram dois!) haviam sido incorporados e amados como filhos pelo casal “consultor”. Apenas filhos, sem o adjetivo: adotivos.
Mais recentemente, um outro casal de amigos adotou uma garota com 7 anos! Pude testemunhar como, com o avançar da convivência, do afeto e das inevitáveis crises entre eles, cada um parece ter nascido para o outro. Tanto os “novos” pais pareciam ter recebido a encomenda perfeita para renovar o casamento deles quanto a linda garota, já grandinha e serelepe, ter nascido para encontrar, um dia, aqueles novos pais.
Quero ainda registrar e agradecer a história enviada pela leitora Patrícia Silva, de Jaguariúna (SP), que inspirou esta coluna. Depois de três anos, e muitas incertezas, na fila do Cadastro Nacional de Adotantes, Patrícia relata com coragem tocante a transformação da vida dela e de seu marido, Gil, com a chegada do pequeno Nicolas. Patrícia sugere que o assunto “adoção” seja abordado de forma mais simples e direta para injetar coragem nos outros casais que vivem o mesmo drama dela. Concordo 100% e digo mais: penso que todos os filhos, de uma forma ou de outra, adotam os seus pais e vice-versa. Somos todos pais e filhos adotivos.